O idealismo analítico de Bernardo Kastrup
Parte da série Experiência & Consciência do Projeto FLOW
Introdução ao conceito de idealismo analítico:
A exploração da consciência é um tema central na filosofia, e uma de suas vertentes mais intrigantes propõe que a consciência, e não a matéria, é o elemento fundamental da realidade. Essa abordagem nos convida a reconsiderar nossa compreensão do mundo ao nosso redor, sugerindo que tudo que observamos e todas as experiências que vivenciamos são partes integrantes de uma consciência universal e trans-pessoal. Essa ideia não é apenas uma abstração filosófica; ela desafia as noções tradicionais de separação e individualidade, propondo um entendimento mais profundo da natureza da realidade.
Se preferir , você pode substituir cuidadosamente o termo "consciência universal" por outros conceitos que ressoam com diferentes tradições e filosofias, como natureza búdica, Deus, consciência não dual ou Unidade. Cada uma dessas expressões traz consigo um conjunto único de significados e implicações. Os idealistas analíticos, por exemplo, costumam referir-se a essa ideia como "mente ou consciência universal", um termo que ecoa a exploração realizada por Aldous Huxley em sua obra seminal de 1954, “As Portas da Percepção”. Nessa obra, Huxley relata suas experiências durante uma viagem psicodélica com mescalina, onde ele se depara com a ideia de que a percepção humana é apenas uma fração do que a consciência pode abarcar.
O que sentimos como um "eu", ou a experiência de ser "eu mesmo", é, conforme essa filosofia, uma manifestação dessa consciência universal que se formou, mas não se separou.
Essa perspectiva filosófica não apenas nos convida a refletir sobre a interconexão de todas as experiências, mas também nos instiga a reconsiderar as implicações éticas e existenciais dessa visão. Se a consciência é, de fato, uma entidade universal, isso implica que nossas ações e pensamentos têm um impacto que transcende nosso entendimento imediato e individual. A ideia de que estamos todos conectados a uma mesma fonte de consciência pode levar a uma maior empatia e compreensão mútua entre os indivíduos, promovendo um senso de unidade em um mundo muitas vezes fragmentado.
Além disso, essa visão pode ser um convite à prática de uma maior atenção plena e consciência em nosso cotidiano. Quando reconhecemos que somos parte de algo maior, podemos cultivar uma vida mais intencional e conectada, onde as nossas interações são guiadas não apenas por interesses pessoais, mas por um entendimento coletivo da humanidade e da experiência compartilhada.
Você já ouviu falar de Bernardo Kastrup?
Nascido no Brasil, filósofo e pesquisador. Kastrup, já atuou no CERN (Laboratório de aceleração de partículas da Suíça) e agora lidera a Fundação Essentia na Holanda,
Ele é um dos pensadores mais influentes quando se trata de idealismo nos dias de hoje. Sua proposta, chamada idealismo analítico, é realmente fascinante. Ele sugere que a realidade física não existe de forma independente da mente. Em outras palavras, a consciência é a base de tudo, e o mundo que a gente percebe é uma manifestação dessa consciência.
Para ajudar a entender essa ideia, Kastrup usa duas metáforas poderosas: os "redemoinhos" e o "painel de controle do avião". Vamos começar com os redemoinhos. Imagine um rio fluindo. Dentro dele, formam-se redemoinhos que parecem entidades separadas, mas, na verdade, são apenas formas temporárias criadas pelo movimento da água. De maneira semelhante, nossas mentes e corpos são manifestações temporárias de uma única consciência universal. Essa visão nos desafia a repensar a noção de separação e individualidade.
Pense um pouco mais sobre isso. O redemoinho, à primeira vista, parece algo distinto, mas é apenas água em movimento. Quando nos identificamos apenas com nossos corpos e egos, perdemos a visão da imensidão do que realmente somos. O redemoinho não está separado da água; ele é parte dela. Da mesma forma, somos manifestações dessa consciência universal. Essa percepção nos ajuda a dissolver a ilusão de separação e a abraçar a unidade que permeia tudo.
Vamos considerar a metáfora do painel de controle do avião.
Imagine a cena: você está no cockpit de um avião, cercado por botões, luzes e informações que piscam sem parar. É o painel que conecta o piloto à aeronave, mostrando altitude, velocidade, combustível... tudo essencial para um voo seguro!
Agora, pense que esse painel representa SUA MENTE. É a forma como você experimenta o mundo, com seus sentidos, pensamentos e emoções. Mas e se essa for apenas uma pequena parte de algo muito maior?
É aí que entra a "consciência transcendental, ou absoluta, presença, entre outros nomes, a força vital que anima todos nós. Imagine essa consciência como o próprio avião, enquanto sua mente, com suas alegrias e tristezas, é só o painel que mostra o que está acontecendo.
Agora vem a parte mais interessante: se o painel quebra, o avião cai? Não necessariamente! O problema está na nossa percepção, não na essência do avião. Ele continua lá, mesmo sem o painel para representá-lo.
A mesma lógica se aplica à morte, segundo Kastrup. O "painel" da nossa mente desliga, mas a consciência transcendental, a nossa verdadeira essência, permanece.
Ou seja: você é muito mais do que imagina! Sua mente, com suas limitações, é apenas uma janela para algo infinito e eterno.
Mas o que o Bernardo Kastrup está realmente querendo nos dizer com isso?
Ele argumenta que a realidade é uma manifestação da consciência, o que contrasta fortemente com o materialismo, que considera a matéria como a única realidade. Se tudo é uma manifestação da consciência, então a separação que sentimos não é real. Essa compreensão nos leva a reavaliar nossas relações e a responsabilidade que temos uns com os outros, já que nossas ações impactam a consciência coletiva.
De acordo com Kastrup, nossa mente pessoal não reside no cérebro. Na verdade, o cérebro é apenas uma expressão dessa Mente universal. Tudo o que existe, incluindo nossos neurônios, é uma manifestação dela. Podemos imaginar isso como um sonho, onde o sonhador cria corpos e objetos no espaço do sonho. Da mesma forma, dentro da Mente universal, todos os fenômenos são percepções e ideias.
Kastrup utiliza a metáfora dos "alters" para descrever os seres humanos e outros organismos. Somos como "alters" ou ‘outros’ dissociados da Consciência universal, esquecidos de nossa verdadeira identidade. Percebemos a nós mesmos como entidades separadas, mas, na realidade, tudo faz parte do mesmo fluxo universal.
A mente, segundo Kastrup, é um meio vasto e contínuo, uma tela infinita onde a existência acontece. Nossa consciência pessoal é apenas um fragmento dessa imensa tapeçaria. A ilusão de separação surge de um processo de filtragem que nos faz acreditar que nossas mentes são distintas. Esse processo nos leva a experimentar apenas uma pequena parte do que a Mente universal abarca.
Transformando nossa compreensão da realidade: O poder do idealismo analítico
E como essa compreensão do idealismo analítico se traduz em nossa vida cotidiana? A chave está em reconhecer que, ao longo do dia, muitas vezes nos deixamos levar pela narrativa do ego, que nos diz que somos indivíduos isolados, competindo uns com os outros. Essa narrativa pode nos levar a sentimentos de ansiedade, solidão e desconexão.
Ao nos tornarmos conscientes dessa dinâmica, começamos a mudar nossa abordagem. Práticas como a meditação, atenção plena e contemplação nos ajudam a nos reconectar com a essência da consciência. Quando estamos presentes e atentos, podemos sentir a unidade que nos une a todos, percebendo que não estamos sozinhos nessa jornada.
Por exemplo, ao praticar a meditação, podemos observar nossos pensamentos e sentimentos sem julgamento, permitindo que venham e vão. Essa prática nos ensina a nos distanciar do ego e a reconhecer que somos algo maior do que nossas preocupações diárias. Ao mesmo tempo, a atenção plena nos ajuda a estar verdadeiramente presentes em cada momento, seja durante uma refeição, uma conversa ou mesmo em um simples passeio.
A importância da consciência na vida diária
Em nossas vidas diárias, frequentemente nos tornamos presos na narrativa do ego, que nos diz que somos indivíduos separados, competindo uns com os outros por recursos e atenção. Essa narrativa pode levar a sentimentos de ansiedade, solidão e desconexão. Mas quando reconhecemos que nossas experiências são expressões da consciência, podemos começar a ver o mundo de uma luz diferente.
Em conclusão, o idealismo analítico de Bernardo Kastrup oferece uma perspectiva profunda sobre a realidade, desafiando-nos a transcender as limitações do ego e da separação. Ao abraçar essa filosofia, podemos acessar uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do mundo ao nosso redor. Enquanto cultivamos um sentimento de conexão e unidade, podemos construir comunidades mais fortes e harmoniosas e criar um mundo mais compassivo e responsável.
Ao navegar pelas complexidades da vida, é fácil nos perdermos na ilusão da separação e fragmentação. Mas reconhecendo que nossas experiências são expressões da consciência, podemos transcender essa perspectiva limitada e acessar uma compreensão mais profunda da realidade. Ao cultivar um sentimento de conexão e unidade, podemos construir um mundo mais compassivo e responsável.
Vídeos da série (episódios 02 e 03) no canal do Projeto FLOW:
Links
Bernardo Kastrup - Website: www.bernardokastrup.com e www.essentiafoundation.org
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The Idea of the Self: A multidisciplinary approach to the nature of the self - Amazon: www.amazon.com/Idea-Self-multidisciplinary-approach-nature/dp/1620556953